Cultura

Teatro | Almanaque

Setembro 6, 2023 ·

As 10 melhores frases para dizer a dramaturgos maus, encenadores péssimos ou actores medíocres sobre o seu último trabalho teatral (sem mentir nem ofender):

1-Foi longo o percurso até aqui.
2-Vislumbra-se uma permanente e forte tensão entre os actores.
3-O contexto de época está muito interessante.
4-O seu dedo é visível em vários momentos da peça.
5-O cenário não podia ser mais realista (ou mais minimalista).
6-Esta na linha dos trabalhos anteriores do encenador.
7-Personagens fortes enriquecem sempre uma peça.
8-Um texto que destaca e aglutina ideias e sentimentos muito raros.
9-O desempenho do protagonista valoriza todo o processo dramático.
10-A solução que pensou para o desenho de luz é inovadora.

Literatura | Almanaque

Julho 9, 2023 ·

As 10 melhores frases para dizer a escritores maus ou medíocres sobre o seu último livro (sem mentir nem ofender):

1-Cheguei agora do estrangeiro mas já encomendei o seu livro na livraria.
2-Quantas horas de trabalho e de esforço criativo.
3-Ao ler, não conseguimos ficar indiferentes.
4-Eu nunca seria capaz de escrever algo assim.
5-Muito eclético pois tem de tudo um pouco.
6-Diga-me se não for segredo: onde foi buscar a inspiração da história?
7-O seu livro tem uma temática tão forte e muito rara nos nossos dias.
8-Deve estar muito orgulhoso/a com o resultado.
9-Por vezes, tem-se a sensação de que é autobiográfico.
10-Estou certo de que já tem outro livro na calha.

Arte | Almanaque

Julho 3, 2023 ·

As 10 melhores frases para dizer a um artista plástico autor de obras horríveis (sem mentir nem ofender):

1-Os seus quadros são únicos.
2-Estou sem palavras.
3-Frequento muitas galerias de arte e nunca vi nada assim.
4-Tem um estilo muito próprio.
5-São surpreendentes.
6-Revelam muito sobre o artista.
7-Parabéns pois conseguiu conjugar linguagens muito díspares.
8-Estou a tentar perceber quais serão as suas principais influências.
9-Mostram uma clara voz interior.
10-Espero que continue a percorrer o seu caminho com toda esta coerência.
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ENSAIO: DO TEMPO

Maio 14, 2021 ·

MANUEL MARIA CARRILHO
Filósofo
Depois de ler Foucault e Sartre, descobri de imediato a noção da dimensão tempo. Do aqui e agora. E do depois e do mais logo. Durante anos, procurei a resposta a uma pergunta simples à qual retornava várias vezes ao dia: “Que horas são?”
Como é óbvio, as leituras de outros enormes autores como Kant, Descartes ou Marx (tem um estudo muito interessante e menosprezado sobre a passagem do tempo na classe operária da Inglaterra oitocentista; recomendo) e, o mais importante de todos neste domínio, Aristóteles.
Mas, se me perguntam, o que dizem estes mestres do pensamento ocidental sobre o tempo posso assegurar que muito e, ao mesmo tempo, pouco. O tempo, enquanto categoria filosófica continua a ser uma incógnita gigantesca e são muitos mais os que se questionam do que aqueles que respondem. Aliás, se consultarem a plataforma Quora, o número de perguntas sobre tempo representa já hoje mais de 14% de todas as perguntas lá colocadas.
Mas, como filósofo e leitor de obras difíceis como a “Crítica da razão Pura” ou o “Manifesto do Partido Comunista”, estou empenhado em ser o primeiro em desenvolver um racional essencial, claro e seguro que ajude as pessoas.
Após uma longa pesquisa online, fui à FNAC do Chiado e comprei um relógio digital, certo de que este instrumento indispensável dos dias de hoje  me traria toda uma outra visão do tema. E, depois de 19 meses de pesquisa e de mais leituras, cheguei a uma questão paradigmática e inultrapassável.
Fiz esta experiência durante 18 dias e 18 noites. O relógio consegue medir os passos percorridos, dados científicos que, depois, transforma em perda de calorias e em metros de distância. Esse foi o logro em que caí, sem me aperceber nos primeiros dias.
Quando acordava, colocava imediatamente o relógio no pulso para ter um registo exacto, cientificamente comprovado e estatisticamente válido (sou, como sabem, um filósofo de forte pendor experimentalista). Até que, ao quarto dia, verifiquei melhor e, ainda estava deitado na cama sozinho, e o relógio já assinalava 678 passos.
Como seria isto possível? Isto ultrapassava até as mais duras  convicções de um leigo quanto mais as de um filósofo. Durante os dias seguintes criei rotinas e fui cercando a dúvida com novas evidências. Quem andaria com o meu relógio durante a noite (questão quase policial)?
Pois, ao fim de 13 dias, cheguei a uma evidência que  agora partilho pela primeira vez: na manhã seguinte, os passos que o relógio assinalava (correspondentes à minha ida ao WC e à cozinha beber um copo de água), apesar de serem feitos antes de me deitar, eram contabilizados já no dia seguinte pois era depois da meia-noite.
Mas, a dúvida persiste: os passos dados depois da meia-noite antes de me deitar, deverão ser contabilizados como passos do dia de hoje ou do dia de ontem? As calorias perdidas: são consideradas em que dia? Quem tem, efectivamente, o livre arbítrio e pode ter uma dúvida metódica tão simples quanto esta: Os passos de ontem são de passos de hoje também. Ou, sendo passos dados ontem mas depois da meia-noite, não podem em absoluto ser considerados como passos de hoje? O corpo e a praxis estarão desavindos de vez? Que implicações tem tudo isto na escrita de autores como Raul Minh’alma ou José Rodrigues dos Santos? Dan Brown já tinha sido premonitório e havia colocado os seus romances em espaços em que não havia relógios digitais. Umberto Eco, sempre muito vivo e activo, quando escreveu O Nome da Rosa foi subtil e, nem por uma vez, escreveu a palavra relógio.
Assim sendo, de interpretação em interrogação, de suposição em investigação, estou quase a chegar ao cerne do problema: a questão do tempo é, de facto e para todo o sempre a grande questão.
Mas o ecossistema conceptual da razão irá sempre sobrevalorizar a cruel realidade dos calendários.
Regressemos às origens cristãs ou acompanhemos os escritos de Darwin, uma coisa é certa: “o tempo, esse grande escultor” nas belas palavras de Yourcenar, será sempre um mistério. Até quando?

Literatura: Camões em risco

Maio 14, 2021 ·

A CCPLPCNSPC (Comissão Cultural para a Preservação da Língua Portuguesa no Contexto da Nova Sociedade do Politicamente Correcto) vai apresentar queixa ao Ministério da Educação, à Assembleia da República e aos líderes dos partidos com assento parlamentar. Segundo apurámos, bastou que a conta do Facebook de uma senhora que mora na Lixa começasse a divulgar uma petição exigindo a exclusão de toda a obra de Luís de Camões do Plano Nacional de Leitura.
A autora da petição, que já recolheu 103 assinaturas, prestou declarações afirmando-se “indignada com a linguagem” do poeta de Os Lusíadas.
Questionada sobre os motivos da indignação, a senhora que quis manter o anonimato, referiu apenas o conhecido poema Aquela escrava que me tem cativo. E confidenciou: “eu, desde que li esta frase com a palavra escravo, nem durmo bem. Andam todos esses professores com estudos a dizer que, agora, é pessoas escravizadas que se deve dizer. Nem quero pensar em abrir Os Lusíadas. Um horror”.
Ferro Rodrigues, Presidente da Assembleia da República, não se quis pronunciar antes de conhecer o conteúdo da petição embora adiante que “os deputados andam muito ocupados pelo que o agendamento da sua análise deverá só ocorrer na próxima legislatura. A não ser que o assunto tome proporções alarmantes no Facebook ou no Instagram”.
NC

Toda a verdade sobre as fotocópias

Abril 24, 2021 ·

O mistério das fotocópias abundantemente referidas nas escutas telefónicas da suposta Operação Marquês foi esclarecido esta semana através do cruzamento de dados de vendas de livros com a localização dos telemóveis de José Sócrates e do seu amigo Carlos Santos Silva.
As inesperadas conclusões da Polícia Judiciária mostram que, quando o antigo primeiro-ministro falava em fotocópias, afinal não se referia a dinheiro mas sim ao livro Fotocópias de John Berger.
O ensaísta inglês é uma das leituras de referência de José Sócrates desde há vários anos, sobretudo depois de ter estudado em Paris. Neste contexto, o Ministério Público vai agora tentar clarificar a situação tendo para já pedido nova busca às residências (oficiais e oficiosas) do antigo líder socialista. O objectivo é perceber se outro livro suspeito do mesmo autor faz parte da sua biblioteca: A Aparência das Coisas.
NC

Quadro de Sócrates descoberto

Abril 23, 2021 ·

José Sócrates sempre afirmou que tinha trocado três quadros seus por um quadro que lhe foi entregue pelo amigo Carlos Santos Silva. Mas nunca revelou que obra seria, deixando crescer a especulação.
Até que esta semana o conhecido colecionador de arte Joe Berardo revelou um facto que pode alterar o curso da própria Operação Marques: o quadro que José Sócrates recebeu foi, afinal, colocado por 3 milhões de euros no mercado de arte internacional.
O conceituado MOMA de Nova Iorque adquiriu o quadro que, agora, pode ser visto na sua colecção permanente.
A administração do museu norte-americano referiu “o orgulho de acolher uma obra tão significativa no seu espólio” e confessou a dificuldade na aquisição uma vez que o vendedor (cujo nome não revelou) “insistiu sempre em receber os 3 milhões em dinheiro, não aceitando transferências bancárias ou cheques”.
Mas tudo acabou por ser resolvido com a intervenção de Joe Berardo que está muito habituado a realizar negociações internacionais e intermediou a operação de contornos pouco habituais mas que não deixou rasto.
NC